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terça-feira, 31 de março de 2009

Caminhos Poéticos da Canção


Hoje fui ver o encerramento do evento Caminhos Poéticos da Canção, no CCBB (RJ) que “propõe um novo olhar sobre a canção brasileira, explorando as relações entre melodia, letra e arranjo instrumental”. Evento este apresentado por Wandi Doratiotto.


Que pena que perdi os outros dias, que contou com as presenças de Luiz Melodia, Chico César, Tavinho Moura e Fernando Brant, dentre outros. Mas fui ao encerramento que fechou com chave de ouro essa edição desse projeto, já que para este último dia os convidados foram a poeta Alice Ruiz (viúva do genial poeta curitibano Paulo Leminski) e Arnaldo Antunes.


Bom programa para relaxar a mente – ou colocá-la em contato com a beleza da linguagem e poesia desses excelentes expoentes da nossa literatura atual.


E a noite começou com Alice Ruiz comentando as suas construções poéticas e declamando alguns bons versos. É claro que a sua proximidade com Leminski o fez pegar o sotaque do poeta curitibano, já que Alice, assim como Leminski, constrói muitos Haikais (que é uma forma poética de origem japonesa). Tanto que ela declamou alguns dos seus haikais. E foi ótimo vê-la declamar esses poemas, porque logo me deu saudade do Leminski, poeta que muito me inspirou na adolescência. Foi a partir dele que ousei tecer poemas autorais, já que antes, por ler muito Drummond, tinha receio de escrever coisas que não chegassem à altura do mestre mineiro (olha a minha ousadia!). E Drummond, para mim, tinha uma certa formalidade, uma certa construção até certo ponto, tradicional, e repleta de detalhes que, talvez eu, pela pouca idade, não conseguia me conectar perfeitamente. Com Leminski percebi que poderia ser mais livre, que poderia ser mais espontâneo, flertando com pesquisas de linguagem e certas ousadias de linguajar. E ao ver Alice Ruiz hoje, voltei-me para esse meu começo com os poemas. E ela, além de ter muito bom humor, introduziu a noite com bastante propriedade e carisma. E já para o fim, acabou declamando uma das parcerias feitas com Arnaldo Antunes – a letra de Socorro, canção que foi gravada por Cássia Eller e Gal Costa.



Aí segue a letra:

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada


E a noite se encerrou com Arnaldo Antunes tocando algumas de suas canções, acompanhado de três músicos: Chico Salem (violão), Betão Aguiar (violão e guitarra) e Marcelo Jeneci (teclados e acordeom). E eu ainda não tinha visto, ao vivo, essa nova proposta musical de Arnaldo. Através da Internet, vi as suas apresentações nos shows de divulgação do Cd Qualquer, que traz canções com melodias belíssimas, quase como canções de ninar. E hoje pude constatar o quanto Arnaldo continua inventivo. E a sonoridade dessa formação musical ao vivo é surpreendente. Até músicas como O Quê (do disco Cabeça Dinossauro, dos Titãs) ganharam uma outra roupagem. E mais surpreendente ainda foi ver a execução da música O Silêncio (do seu terceiro trabalho solo) que ganhou ares de forró.E Arnaldo ainda apresentou uma canção inédita - Longe - que vai estar no seu próximo trabalho. Como não poderia deixar de ser, uma bela canção.

Com certeza, essa noite valeu muito!

Saudações para Alice Ruiz e Arnaldo Antunes. Eles alimentam a cultura brasileira com criatividade e talento.



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