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quarta-feira, 23 de setembro de 2020
Meus livros de amor
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
+ ou - ISSO - Poemas do voo e da queda
Antes da quarentena eu pensava em fazer o terceiro livro da minha
Trilogia do Amor.
Eu estava escrevendo aos poucos os contos que estariam no livro.
Mas, a partir de março de 2020, tudo mudou.
Veio o medo e muitas incertezas.
Obrigatoriamente, deveríamos ficar em casa.
Então, um dia me veio um insight
de organizar um livro de poemas para lançar na Amazon.
E fiz. Criei o "Poemas para se ler na quarentena"
e o disponibilizei na plataforma.
Para minha surpresa, em cinco dias, teve 739 downloads do livro digital.
Muitas pessoas vieram a mim, comentando o livro.
Detalhe: o primeiro livro que lancei na vida foi um livro de poemas.
Sempre escrevi poemas, mas já não pensava
em fazer um livro para compartilhar
esses poemas. Isso me veio mesmo na quarentena.
Então, por conta do sucesso do primeiro livro lançado,
fiz o segundo: Poemas para se ler na quarentena Volume 2.
E desde março, eu passei a escrever compulsivamente,
como se realmente não houvesse amanhã (risos).
E a ideia era poder lançar muito mais coisas.
Passei a organizar uns poemas, pensando na trajetória da minha vida.
Um livro que desse conta das minhas alegrias e dores.
E isso me veio mais forte quando fiz uma Constelação Familiar online.
Algo muito profundo e revelador.
Os assuntos logo pipocaram na minha cabeça.
Peguei um caderno e estabeleci uns tópicos e saí escrevendo.
Quando a coisa foi ganhando forma, entendi que eu não escrevi o livro,
foi ele que me escreveu.
Nos momentos em que eu sentava para criar algo,
logo me vinham muitas lágrimas.
Foram dias intensos. Eu escolhia momentos para vir esta catarse.
E me jogava nela, sem receio e sem pensar em pára-quedas
ou redes de proteção.
Simplesmente me jogava. Queria entender até onde ia todo esse processo.
E quando olhei os poemas que selecionei para este livro
que eu ainda não sabia o que era, vi que eu estava falando
claramente da minha vida, dos meus pais, do meu passado, do amor…
Fiz um exercício de resgate de muitas coisas.
Foi mesmo um livro feito com lágrimas e reencontros.
Eu fui lá onde a ferida doía para libertá-la.
Curiosamente, vieram-me imagens de montanhas, índios, fogueiras.
Eu não entendia o fluxo disso mas deixava vir e, ao escrever,
foi quase como se eu estivesse psicografando.
E quando eu terminava este processo, realmente
vinha uma sensação de esvaziamento.
E eu me jogava no sofá e ficava olhando o teto.
E, de cara, pensei: qual seria a razão disso tudo? o que me motivou?
o que eu pretendo com isso? Logo tive a certeza de que escrever
já foi o mais importante do processo todo, independente
do que isso viria a se tornar.
E foi a minha versão dos fatos…
Os fatos da minha vida, única coisa que me pertence profundamente
e não é de mais ninguém. Algumas pessoas dividiram coisas comigo
ao longo da minhas existência, mas não tem conhecimento
do todo que eu vivi.
Podem ter uma vaga ideia. No entanto, o todo pertence a mim.
Então, como foi tão profunda e tão dolorosa algumas passagens,
eu já sonhava que muitas pessoas pudessem ler este livro
que me foi tão importante fazê-lo.
Tanto que, imediatamente, pensei no título: “Para quando eu me for”.
Parecia algo bem sério e quase como um legado.
E, afinal, também tinha a ver com essa coisa da brevidade
que nos veio tão forte e tão óbvia a partir das mortes
por conta de um novo vírus.
E isso me fez pensar também na década de oitenta e na Aids.
Por isso eu me voltei para Cazuza e toda a sua urgência em função
da sua condição de soropositivo.
Eu me fiz urgente. Eu me desafiei de todas as formas.
E esse livro só foi possível levando em conta a minha maturidade.
É um resgate importante, primordial, que promoveu
a reconstrução de um ser,
o meu ser em particular.
Foi preciso silêncio e o esvaziamento necessário
para se começar a auto-investigação.
Então, eu me espremi para (re) nascer em versos.
E eu falo da minha vida de forma que possa servir a alguém
que se identifique com os processos.
Porque é um livro que fala da família, da mãe, do pai, dos avós.
Um livro em que olho as minhas raízes e entendo o movimento
que me levou pelas minhas caminhadas.
Em resumo, é + ou - isso. O título do livro que já fala por si
- substituindo a ideia inicial
de “Para quando eu me for”.
E fiz questão de usar os símbolos “+” e o “-”,
pensando nas polaridades de uma pilha.
A carga negativa e positiva. Uma verdadeira metáfora da vida.
E o subtítulo também nasceu de forma bem apropriada:
Poemas do voo e da queda.
Então, ficou “+ ou - isso - (Poemas do voo e da queda)”,
de autoria desta pessoa que vos escreve.
Agora estou leve, muito leve, depois de lançar este livro ao mundo.
Espero que chegue a alguém,
porque sinto como se fosse a garrafa de um náufrago jogada ao mar.
Pode demorar a chegar, mas vai chegar a alguém.
Agradeço a quem, por ventura, o livro chegar.
É uma parte importante da minha pessoa. Com toda certeza!
terça-feira, 4 de agosto de 2020
Uma ideia na cabeça e um celular na mão
UMA IDEIA NA CABEÇA E UM CELULAR NA MÃO:
O EXERCÍCIO DO OLHAR - por Raul Franco
Neste momento de pandemia tivemos que lidar com muitas coisas que não passavam pela nossa cabeça. De repente, estávamos assustados, inseguros e com medo, muito medo. Em casos extremos, pânico mesmo. Passamos a lutar pela nossa sobrevivência. Um turbilhão de emoções tomou conta de todo mundo. E com o isolamento social, a coisa ficou ainda mais intensa, principalmente internamente. Várias questões pintaram no meio do caminho: “O que faremos de nossas vidas?”, “Como conseguiremos dinheiro para pagar as contas se não saímos de casa?”, “O que posso fazer para manter a cabeça ativa e saudável?”. E, com certeza, a palavra de ordem foi: REIVENTE-SE! E isso fez muito sentido, principalmente para nós da arte.
Antes, queriam colocar os artistas na categoria dispensáveis, sem utilidade nenhuma. E, então, veio essa loucura toda e mais do que nunca foi provado que sem arte não vivemos!!! Ela está aí para nos dá o lúdico, ajudar-nos a relaxar, a respirar algo que não seja tão pesado como a realidade que nos oprime. A arte é sim imprescindível! Se houver duas pessoas teremos essa necessidade da comunicação, de contar uma história, de emocionar. Se tivermos duas pessoas, teremos teatro, teremos arte!
Essa explanação inicial é só para dizer com todas as forças que estamos mesmo vivendo um novo tempo, um tempo diferente. As aglomerações continuam sendo um grande problema, uma grande preocupação daqui pra frente. Imagine nós artistas que vivemos e precisamos dessas aglomerações, o nosso trabalho tem muito a ver com isso! Shows e teatro? Como podemos fazer isso de novo já que é tudo incerto? Não vai ser amanhã que todos lotarão os teatros novamente (aliás, o teatro já estava lutando com todas as forças para sobreviver e agora, mesmo com máscaras de oxigênio, ele mostra que é Highlander).
Então, o que conseguimos ver no atual cenário? Muita gente procurando alternativas, meios de continuar fazendo arte. Muita gente pesquisando linguagens, experimentando coisas. O certo é que, se antes já vivíamos no celular, agora mesmo é que ele se tornou uma ferramenta mega-importante. Queremos boa Internet, bom aparelho, para que possamos fazer uso disso como auxílio de alguma coisa nova que pretendemos fazer e que pode ser um novo caminho pela frente. Então, teve gente que descobriu funções novas no celular que nem sonhava para que servia. E aí muita gente correu para o Zoom e outras plataformas similares para reuniões de trabalho, fazer peças e até comemorar aniversários. Fazer peças! Aí entra outra coisa que merece destaque. Algumas peças já estão se experimentando no Universo online. E muitos desses trabalhos já estão aí para serem apreciados. E aí veio a discussão em função dessa nova forma de se fazer teatro. Muitos dizem que não é teatro, que é outra coisa. E realmente não é teatro, mas também não é áudio-visual. É uma mescla de linguagens que ainda não entendemos o que é ou o que pode ser. Estamos no movimento e devemos ficar atentos a isso. Como artistas, não podemos deixar o bonde passar. Temos que nos agarrar nesses novos ventos para entender como é que vamos funcionar artísticamente. Como vamos potencializar o nosso ofício? Como vamos comunicar alguma coisa de arte para alguém do outro lado da tela? Sim, agora é a tela do celular que nos separa do público que está na plataforma do zoom, nas lives do instagram e do facebook, como também no youtube. Há uma “fome” de conteúdos artísticos que podem estar ao alcance dos dedos. Os nossos dedos correm no visor para dar conta das lives que surgem nessa nuvem comunicativa da Internet.
Eu ando pensando muito essas formas de se fazer arte. De como continuar existindo como artista. E isso não tem me dado medo. Pelo contrário. Tem me desafiado dia após dia. Eu me forço a ter grandes ideias e a experimentar novas coisas - uso o que está ao alcance das minhas mãos para fazer o artístico que necessita sair de mim.
Logo no início da pandemia, onde tivemos que ficar em casa, já me veio a ideia de lançar um livro de poemas pela Amazon. Coisa que eu fiz e que foi muito bem recebido pelos leitores. Depois comecei a fazer exercícios de dramaturgia, criando vídeos para um personagem que misturava a ficção com a minha vida. Assim nasceu RUBENS RAUL CAIO DA SILVA. Fiz três vídeos que variavam sobre este tema. Depois lancei um projeto de leituras dramatizadas online, o Curta a Cena, onde eu apresento textos meus e de uma parceira, a Carmen Filgueiras, em lives no Instagram. E foi e continua sendo muito interessante nos exercitarmos nesse sentido. Porque não só escrevemos o texto, como pensamos na sua concepção e na construção dos personagens que nós mesmos vamos fazer. É um super-trabalho. E que já rendeu frutos: duas coletâneas de textos foram lançadas na Amazon. E, no meio disso, ainda consegui participar do meu coletivo CLUBE DA CENA que se lançou em uma nova forma de fazer esquetes através de lives no Instagram, contando com a interação do público. Ficamos em cartaz de segunda a sexta durante dois meses, produzindo cenas. E eu ainda era o responsável por editar as lives e lançá-las no YouTube.
O objetivo aqui, partindo dessas minhas realizações, é propor reflexões e diálogos sobre o que podemos ainda fazer. Então, muita gente já sentiu na pele e na marra a necessidade de reinvenção. Quem nunca tinha feito live, teve que saber como se faz isso. E não só live para fazer cenas, apresentar uma performance, mas lives para dar aula, fazer reuniões e outras coisas. A preocupação agora é se a bateria do celular está bem carregada, se há uma boa conexão e qual lugar é melhor para que o sinal fique mais estável. Sim, é um novo esforço, uma nova tensão. Um novo olhar para isso tudo que estamos vivendo.
Aí agora entra a abstração do título que usei para este texto. UMA IDEIA NA CABEÇA E UM CELULAR NA MÃO: O EXERCÍCIO DO OLHAR. Eu tenho visto muitas coisas artísticas online. Recentemente vi bons trabalhos que me instigaram e me levaram a profundas reflexões e ao exercício do fazer também. Já que quando vejo alguém realizando algo, penso: “Se a pessoa fez é possível que eu consiga fazer”. Vi um trabalho dirigido por um amigo meu, o Ivan Sugahara, que era na quina da sala dele. O espetáculo se chama NO INTERIOR. E é Uma pesquisa sobre a questão do isolamento, onde a atriz Danielle Oliveira trabalha movimentos interessantíssimos nesse espaço. E tinha uma luz que criava uma sombra especial na parede que dava uma ambientação muito propícia ao que a atriz discutia. E também ouvíamos sons gravados da voz que faz a narração praticamente toda do que acontece nesse espaço cênico. Estou falando muito en passant aqui para dar conta de tudo que eu quero e preciso falar. Vou prosseguir, qualquer coisa retomo este viés aqui lançado.
Vi trabalhos com processos dos artistas sendo divididos conosco. O que foi o caso do Coletivo Complexo Duplo, do Felipe Vidal, que está em pesquisa em cima do álbum Dois, da Legião Urbana, que foi lançado em 1986. O primeiro episódio foi lançado no YouTube e acompanhamos coisas do processo que já estavam gravadas e que foram divididas ali conosco no momento em que ocorria a live. Isso também foi o que aconteceu no trabalho do Ivan com a Danielle que foi um encontro no Zoom onde eles davam um link do Youtube para vermos o espetáculo NO INTERIOR, que foi gravado em plano sequência, isto é, não tem cortes. E o Ivan até se arrisca a chamar este trabalho de “peça-metragem”, ou seja, acenando para a possibilidade de se cunhar um termo que dê conta desse novo movimento. O que digo aqui - procurando dar ênfase neste momento - é que não se trata de uma execução em tempo real (e talvez é isso que determina o que é ou o que não é teatro? Mas mesmo se a performance for executada ao vivo não teremos pessoas assistindo no mesmo espaço… Então, isso não pode ser um ato teatral? Questões, questões…).
Agora um trabalho que me deixou profundamente tocado e inspirado, foi o trabalho do ator Marrat Descartes, que se chama PEÇA. Vi por acaso a divulgação em um link patrocinado no Instagram e resolvi conferir porque estou cada vez mais voltado para saber sobre esses trabalhos feitos de uma forma pulsante e com a necessidade de comunicar algo. E o trabalho de Marrat é incrível. Fora que, de cara, ainda ficamos sem saber o que está sendo ao vivo mesmo e o que foi gravado. Porque poderia ser uma pegadinha isso de dizer que é ao vivo quando, na verdade, já foi gravado e está passando em uma live. (Isso não é engraçado e curioso? - um gravado passando numa live?!) Mas, quase tudo que o Marrat faz em sua peça PEÇA é ao vivo. Algumas inserções de vídeos acontecem, e, vale dizer, de uma maneira como todos nós fazemos, já que o desktop é mostrado e a seta vai e clica no vídeo que vai passar na hora. E o trabalho é potente, vigoroso, porque é uma mescla de acontecimentos da própria vida do Marrat com coisas ficcionais ou reflexões do tempo em que vivemos. Não quero falar mais para não dar spoiler, caso vocês consigam ver a peça que, literalmente, chama-se PEÇA, que é a designação de uma obra a ser apresentada como também o ato de pedir: PEÇA. Interessante!
Ainda tinha algumas outras referências para citar de coisas que ando vendo. Mas o que importa aqui é ser mexido por tudo isso e nos provocar diante desta iminência de realizar algo neste tempo repleto de incertezas. Por isso, digo: se temos uma ideia na cabeça, é só pegar o celular e pensar em como executar esta ideia. Daí o destaque para o exercício do olhar. Por exemplo, agora que fomos obrigados a ficar em isolamento social, as nossas casas, pra quem faz arte, viraram locações. Cada espaço pode ser um local a ser explorado, já que tivemos tempo para olhar para isso com calma. Eu tive a sorte de me mudar em dezembro do ano passado (GLÓRIA, GLÓRIA!!!). Então, como me obriguei ao isolamento a partir do dia 14 de março, pude passear pelo ap novo, já que ele ainda é “virgem” para mim, e descobri-lo por inteiro. E pude fazer algumas filmagens aqui através do celular. Aliás, é a primeira vez na vida em que uso o celular para fazer todos os processos da etapa de criação. Filmo, edito e lanço para o mundo os meus vídeos através do celular. Isso me fez ganhar tempo em muitas coisas. Porque antes eu até gravava com o celular. Mas na hora de editar era pelo computador, assim como postar nas redes sociais. Hoje faço tudo pelo celular.
Então, comecei a provocar o meu olhar cinematográfico. Fiz alguns trabalhos que já são em cima desse olhar mais apurado. Assim nasceram os vídeos: Das Plantas, Saudade sobre tela, Você é especial e o último: LIVE OU MORTE? E em cada um fui sofisticando alguma coisa. Fui exigindo uma melhora em termos de captação, iluminação, gravação do áudio e interpretação. Afinal, são vídeos de um homem só. Eu escrevo, eu interpreto, eu posiciono o celular, ajeito os refletores, penso nas locações, etc. Ou seja, é um imenso movimento. Tenho criado ondas enormes aqui na minha casa.
Fora o meu trabalho também de pantomima que faço há 13 anos. Só que aí é só (?) ensaiar os movimentos, os gestos em cima da música e depois vê onde vou gravar e posicionar o celular de modo que capte o que quero mostrar. Nesse trabalho de produção de vídeo-performance, já é um exercício de corte cinematográfico, de pensar na narrativa que vou usar. De fazer storyboard, de experimentar como fazer alguma coisa, pensando se vai ser possível. Ou seja, tudo em casa! Isso, com certeza, esse tempo me deu a oportunidade de experimentar.
Brinquei há pouco tempo, perguntando em um stories o que as pessoas tinham aprendido de novo nesta quarentena? Eu digo que não aprendi muita coisa nova, porém, eu aprimorei e aperfeiçoei várias coisas que eu já sabia. E ainda estou aprimorando. E tudo começou quando eu quis criar e filmar coisas, pensando em editais que estavam surgindo e também festivais. Mandei alguns vídeos para essas oportunidades. Dois deles já participaram de festivais. E o negócio é continuar fazendo. Porque o exercício do pensar e refletir sobre linguagens, formas de execução de um trabalho novo, pode nos fazer descobrir ainda mais o nosso potencial para coisas que não imaginávamos que poderíamos fazer. E é isso que devemos ter como regra da nossa conduta como artistas: SEMPRE NOS REINVENTAR! Porque se você estava se preparando há muito tempo, agora é hora de pôr em prática tudo aquilo que você vinha acumulando e só faltava espaço e oportunidade para fazer e acontecer. A HORA É AGORA! A HORA É JÁ! CRIE E SE RECRIE DENTRO DISSO TUDO QUE É NOVIDADE! Você pode ver que há muito ainda por fazer! E melhor! E diferente! Mão na massa!!!
P.S.: Com certeza no tempo de leitura desse texto, 239 dancinhas novas foram criadas no TikTok e também 332 reels foram criados para o instagram. Então, corra e realize o seu propósito.
sexta-feira, 8 de maio de 2020
AMAZON / YOUTUBE
terça-feira, 5 de maio de 2020
Poema sobre tantos acontecimentos neste começo de maio
O bilhete último
buscando leveza
Os óculos escuros: uma maneira de esconder os olhos
pra não ver que a humanidade tropeça
Fingir que está tudo bem
é compactuar com as mentiras
vendidas em redes sociais
E perguntaram o que habita a minha cabeça
Agora, com o peso nos ombros,
o cansaço do mundo,
o fastio do Brasil,
não saberia responder
Mas ontem eu tinha borboletas na cabeça
Voos certos, sem pressa
Sonhos prontos para virarem realidade hoje
No entanto, a vida é sempre um drible,
uma surpresa na esquina
Aldir já nos dizia da esperança equilibrista
E eu lembrei do Brasil de ontem
de coturno e traje verde oliva
E hoje ainda vejo a ignorância ganhar as ruas
com trompetes de insensatez
Desumanizamos tudo
Agredimos tanto
E agora a estúpida certeza
de que falhamos como espécie
Sugamos tanto a natureza
que agora ela cobra as ofensas
E há um desencarne absurdo e absoluto
a cada dia
Muita gente dizendo adeus pra esse Brasil
que descarrilha em discursos de ódio
e falta de empatia
E eu luto, luto, luto
E peço arrego com essa poesia
Agora enquanto escrevo
alguém xinga pela rua
E eu, sem forças, sigo estatelado no sofá
O mundo parou
e eu já desci
esperando o próximo trem
que nos salve!
segunda-feira, 27 de abril de 2020
Minha Quarentena de Antena Ligada - Raul Franco
sábado, 4 de abril de 2020
Processo de Cura
sábado, 14 de março de 2020
Presente de Aniversário
no Rio de Janeiro, né?
E seu padrasto dizia que você não viria, pois não largaria
a sua vida de Belém.
E você veio! Isso já é uma vitória. Ah, a sua namorada Mônica veio com você.
Olha, permita-me dizer algo. A Mônica não ficará contigo pelo resto da tua vida.
Desculpa te dizer isso assim, na lata. Mas é a verdade.
Porém, não se desespere. Vocês se tornarão melhores amigos.
E terão vários momentos de diversão e troca pela vida, mesmo a distância.
Olha, vai ser louco, mas em 2 dias de Rio
você fará um teste para uma peça de teatro.
E não passará. Você ficará de bode no quarto, não querendo ver ninguém.
Mas… alguém que tava no teste te convidou para fazer um infantil.
Em 4 dias você já estava ensaiando uma peça no Rio.
Com sinceridade, nada vai ser muito fácil. Pelo contrário.
Nem vou te contar que você vai ensaiar
uma peça por nove meses e ela não vai rolar.
Ah, você vai ter duas depressões. Uma em 1998 (duríssima) e outra em 2005
(vai vai se assustar quando for se pesar e ver 56 quilos).
Mas você vai sair delas.
Em 1999, depois das primeiras crises em sua vida no Rio de Janeiro,
você vai ser contratado pela Globo (televisão -
coisa que você nunca havia pensado)
e vai estar em cartaz com uma peça que você escreveu e dirigiu
e que vai fazê-la por muito tempo no RJ. Você se sente bem. Muito bem.
E nessa época, resolve encarar a vida com cinismo.
Na verdade, essa será uma arma que você vai usar com o intuito
de proteger o teu coração tão machucado.
Nesse momento, as pessoas sentirão certa dificuldade
ao se comunicar com você.
Não saberão quando você está falando sério ou não.
Você fará muitos trabalhos. Um deles, uma peça em São João de Meriti.
E nesse período você estará sofrendo de saudade.
Na ida para São João de Meriti, você chorará muito
com a cabeça na janela do ônibus, pegando o vento nos cabelos.
E dizendo pra si mesmo: “Se eu escolhi isso pra mim, eu vou até o fim”.
E seguia limpando as lágrimas dos óculos.
Depois de superar o fim da sua relação com aquele grande amor,
você terá muitas paixões. E, sim, você será escroto com algumas pessoas
(e só depois você vai entender isso). E, em muitos momentos,
você conseguirá ser o mais doce possível e com aquele romantismo
do qual você tinha medo mas que não conseguia
pensar um relacionamento sem isso.
Você terá algumas noites de muitas bebedeiras. E você fumará muito.
Sei, é fácil pra mim te dizer isso hoje. Mas, cara, o CIGARRO
é uma das maiores besteiras da vida.
Pena que você só vai entender isso anos mais tarde.
E um dia ficará puto por ter fumado tanto.
Ficará puto com os teus pais, por serem fumantes,
e terem sido irresponsáveis ao te mandar comprar o cigarro deles
quando você era criança. Mas uma coisa em ti é de puro orgulho:
você sempre fez questão de nunca acender um cigarro perto do teu filho.
Aliás, você nunca se considerou fumante, perto das 4 carteiras
que seu pai fumava por dia.
Ah, perdoe os seus pais sempre que puder.
Eles, assim como você, não têm culpa.
Outra coisa que vai parecer chato eu te dizer.
Mas não perca os seus fins de semana
dormindo até 15, 16h. A vida é linda. O sol é uma fonte de energia incrível.
E você mora em Copacabana, porra! Você sabe quantas pessoas
gostariam de estar em seu lugar??? Um monte. Tá, infelizmente,
você só vai valorizar isso anos depois.
Por sorte, você ainda mora em Copacabana.
E pode compensar o tempo perdido.
Eu te admiro muito. Sei da tua luta. Sei das vezes que você se encolheu
na cama e disse: “Se eu morresse agora tudo ficaria mais fácil”.
E você quis morrer, quis muito. Mas pensava no sofrimento que você
traria pra sua mãe com a sua perda. E desistia da ideia.
Você, por ser introvertido, demorou um tempo
para se adaptar a Cidade Maravilhosa.
Sempre foi de poucos amigos e bem sincero em suas relações.
No fundo, você sempre foi coerente com tudo.
Nunca admitiu usar máscaras para participar do baile das hipocrisias sociais.
Ah, você será passado para trás por algumas pessoas.
Uma de Curitiba (“alô, Curitiba”), outro com nome de padre
e outro com nome de apóstolo.
E também roubarão algumas ideias suas e até nome de peça.
Você ficará puto, mas depois verá que você é uma máquina de criar
e isso só te dará pena dos ladrões.
Você terá momentos incríveis com a Luciana. E também com a Bárbara.
E outros com a Geise. E um dia, você não entenderá o sentido,
mas será extremamente grato por elas terem passado pela tua vida
e te ensinado tanto. E um dia você vai encontrar uma delas e ela vai te dar
um abraço tão especial que você dirá:
“Nossa, como a vida é legal. Afinal, sempre quis isso: paz nas relações”.
Ah, sabe o Canecão, né? Aquele lugar que tu sabias pelo show
do Cazuza e do Elymar Santos.
Pois bem, você verá diversos shows lá. E com um detalhe: todos de graça.
Mas não vou te dizer porque. Você descobrirá.
E mais… Você, um dia, irá se apresentar no Canecão. Verdade pura!
Olha, você fará muitos shows. Sim.. Mas não é show assim de cantor
(que era o seu sonho), mas shows de comédia. Isso te assusta?
É, cara, você vai fazer comédia e vai ganhar muito dinheiro.
Vai se apresentar nos lugares mais incríveis
e vai ficar 3 anos em cartaz em São Paulo.
Você, que fez o teu primeiro e-mail em 1999,
vai ser considerado um dos primeiro virais da Internet,
em um boom com um vídeo teu. Sim, isso vai acontecer.
Serão os teus 3 minutos mais bem pagos da vida.
Você pensará em desistir da carreira muitas vezes
(agora, por exemplo, acho que você está pensando nisso).
Assim como um dia irá procurar emprego
em uma Locadora de filmes na Urca.
Você fará faculdade de Artes Cênicas.
Você terminará o curso e levará anos para ir pegar o diploma
(ainda não pegou?).
Você voltará diversas vezes para Belém.
Algumas vão ser bem dolorosas.
Um grande amigo irá falecer. E depois outro.
E depois a irmã da mãe do seu filho.
E depois algumas outras pessoas importantes.
Você fará muitos poemas num quartinho.
Escreverá livros que nunca vai lançar.
Fará letras de música, roteiros, contos eróticos.
Você irá sempre escrever, pois se te tiram isso, você morre.
Ah, você com o tempo descobrirá um vício terrível. E será uma luta vencê-lo.
Mas você entenderá a fraqueza que te põe nele e eu não saberei
mesmo te dizer o que fazer para lutar contra ele.
Mas o certo que um dia você descobrirá o caminho.
Você terá um grande baque, no dia que o seu padrasto passará mal.
Serão 4 anos de hospital. Quatro anos de silêncios teus.
Quatro anos onde você será só 10 % do seu potencial.
Quatro anos onde você irá fazer trabalhos que não quer.
4 anos de muita bebedeira.
Ao mesmo tempo quatro anos em que, ironicamente,
você irá cuidar da sua saúde.
Irá mudar a sua alimentação. Irá correr e malhar na praia.
Irá tomar muito suco verde.
Irá ter felicidade nas pequenas coisas.
Só viver já era o bastante pra você.
E, sim, um dia o teu padrasto, o mesmo que duvidou que
você viria morar no Rio,
ao mesmo tempo, o cara que te “impediu’ de ir embora daqui
quando você se sentia sozinho,
sem trabalho e desmotivado, irá partir.
Você irá pensar a tua vida inteira.
Você vai decidir voltar a viver. E quando tudo parecia perdido,
você encontrará o budismo.
E sentirá o vigor do teu potencial. Então, você vai se dedicar,
vai motivar pessoas,
vai conseguir tanta coisa boa, vai vibrar de outra forma,
vai se sentir com esperança.
Um dia você não vai sentir saudade. Você não vai sentir ódio de Belém.
Um dia você vai perdoar a si mesmo. Vai entender as suas dores.
Um dia você vai se cansar muito.
E quando você menos esperar, vai se apaixonar de novo e vai ter alguém
em quem você vai se enxergar e aprender mais
sobre você observando o outro.
Vai ser uma linda experiência, uma linda história.
Que você não vai entender porque ela vai chegar ao fim.
Mas você também adquiriu uma força enorme
que te faz aceitar o rumo das coisas,
que te faz entender que cada coisa tem o seu tempo próprio
e tudo acontece quando deve acontecer.
E, sim, você entendeu a força do amor e vai seguir amando,
mesmo se não estiver com a pessoa.
Um dia, Raul, você estará no teu quarto, com a janela aberta,
será sábado e será também o teu aniversário.
Então, você entenderá porque
passou a semana chorando. Afinal serão dias que antecederão
o teu renascimento.
E você vai querer se dá um presente. E será uma carta
que você escreverá hoje
para o Raul de ontem. E vocês verão que nenhum dos dois
teve culpa em suas lutas.
Tudo é resultado de muitas conquistas. E essa carta será extraviada e
irá parar nas redes sociais onde todos vão ler. Sei, agora muitos
vão saber de vocês.
E o que você vai fazer? Limpar as lágrimas do rosto
e cantar aquela canção
dos Engenheiros do Hawaii que você tanto gosta:
“Não vim até aqui pra desistir agora”.
E, Raul, eu te entendo. Isso não é o fim. É apenas mais um recomeço.
Se eu não tiver escrito tudo, espero que tenha escrito o essencial.
Boa vida!