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terça-feira, 7 de maio de 2024

VERDADES SOBRE A MADONNA

 


AINDA SOBRE MADONNA - Por Raul Franco


O que falar agora quando o furacão já foi? (Uns vão dizer: “Graças a Deus”, é claro. Os mais radicais e repletos de remorsos infundados dirão “Não sei para que veio”. E mais: “Não volte nunca mais”). Mas ela veio e fez história, agradando ou desagradando. E que impactante a não unanimidade! Afinal, como diria Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. 


Quero falar do ícone Madonna, da imagem, do símbolo… antes, vale dizer: “Nunca fui tão fã de Madonna assim”. Nunca mesmo. Mas acompanhei a sua trajetória e sucessos. Amo Live to Tell e Like a Prayer (e nesse show as duas músicas estavam coladinhas! Eeeba). E até chegava a dizer: “Prefiro Michael Jackson. Muito melhor”. E teve esse momento em que o mundo se rendia a esses grandes espetáculos, de luzes, som, coreografias e fantasia. Com o passar do tempo, recebia informações da Madonna por um parceiro de cena, um fã alucinado, que canta todas as músicas e faz as coreografias. Tanto que em uma das versões da minha peça “Casal Consumo” abríamos com uma música da Madonna. E foi incrível.  E também fiz outra peça, “Na Cama com Tarantino “, que pegava cenas dos filmes do Tarantino, como a famosa cena de “Cães de Aluguel”, onde assaltantes de banco discutem sobre do que fala a canção “Like a Virgin”. Muito bom. 


E Madonna está aí… O Michael Jackson se foi… infelizmente. Mas nem devemos realizar uma comparação infértil que enfatiza preferências. Não se traá disso. Mas são ícones. Madonna se manteve em uma carreira que já dura quatro décadas. Como se manter relevante por tanto tempo? Ela que abriu tantas portas na base da porrada mesmo. E mostrou que uma mulher forte, independente, dona de si, pode vingar na indústria do pop por muitos anos. E ela busca conciliar o mundo? Talvez… mas o nosso mundo é contraditório, careta, e muitas vezes, imbecilizado, ainda mais agora rendido a um aparelhinho de celular que dispara Fake News em uma velocidade estonteante. 

Então, Madonna não quer conciliar p#rra nenhuma. Ela quer fazer a sua arte e ter direito a isso. Ela que foi bombardeada ao longo dos anos por diversas pessoas, incluindo Camille Paglia (que tanto fez a minha cabeça nos anos 90) que a acusou de ser, algo como, um desserviço ao feminismo. Madonna refletiu sobre isso, discursou sobre isso e disse, no fim das contas, que, talvez, ela seja um outro tipo de feminista. Aliás… hoje o caos se dá quando muita gente ouve a palavra “feminismo”. Mais uma contradição, fragilidade e dicotomia desse mundo tão bizarro. 


Em suma, Madonna continua relevante, mesmo que nos últimos 20 anos não tenha lançado um disco tão bom quanto os seus primeiros. Continua sendo relevante por ter aberto portas para que outras artistas surgissem… parodiando Raul Seixas “Ela que foi a primeira e já passou tanto janeiro… mas se alguns querem… ela vai voltar”. 


Como Maria Madalena, ainda recebe pedradas e condenação. E é muito interessante ser amada e odiada na mesma intensidade. Chamada de velha… olha o etarismo nosso de cada dia!!!… e tem vídeo dela nem aí, dizendo… “Me chamam de velha. Quando vocês chegarem aos 65 a gente conversa”. E a “velha” está aí, causando. Dona do seu corpo. Coerente com tudo que já fez. Madonna é o tapa na cara do patriarcado. Cospe no machismo com elegância e um pouco de vulgaridade… por que não?! Madonna é uma mulher que goza… eba (beijos Flaira Ferro: “não tem coisa mais bonita nem mais poderosa do que uma mulher que brilha, do que uma mulher que goza”). E isso até me lembra um filme chamado Histeria (2011), onde as mulheres que eram diagnosticadas com histeria tinham como solução o gozo, o orgasmo. Aí estava a cura. O filme conta, inclusive, que a partir daí se deu o surgimento dos vibradores. Então, na incompetência do mundo masculino, que a mulher tenha o seu vibrador e goze, goze muito. A mulher com o seu gozo em dia não quer guerra com ninguém. E Madonna é essa mulher que goza, uma mulher orgástica dona do seu próprio orgasmo… ah, aí vem falar de “energia satanista”... ah, faça-me o favor! Não vem com citações bíblicas ou dizer que Deus condena isso. Deus tem mais o que fazer do que se preocupar com o show da Madonna. Por isso que se diz que Deus é até legal, o que mata é o fã clube. Madonna estava no seu show, fazendo a sua arte. Cobrem do pastor que estava no púlpito da igreja, dizendo que chama a filha de gostosa e que roubou um beijo seu. Cobrem lá. Isso sim. “Ah, isso é um absurdo para as nossas crianças”. Que criança estava acordada 22h30, vendo Madonna??? Aí é problema dos pais. 


Olha, bom mesmo ter tido Madonna aqui pra ver máscaras caírem e a hipocrisia reinar. O nosso mundo ainda está doente em N sentidos… nem vou mais esmiuçar ou citar coisas aqui. No entanto, se o nosso mundo está doente, que tenhamos válvulas de escape… que tenhamos Madonna. Posso dizer que fui a um show da Madonna e que dancei na areia de Copacabana e vi meus ídolos Cazuza, Renato Russo, Freddie Mercury e Caio Fernando Abreu no telão na linda homenagem em Live To Tell. E vi Michael Jackson e Madonna dançado juntos… A arte os aproximou e aproxima - ícones do nosso tempo. E quanto mais eu vejo e leio comentários discrepantes sobre ela e o seu show, mas eu fico fã de Madonna, essa adorável Vaca Profana. Que ela derrame o leite bom em minha cara e o leite mau na cara dos caretas. O resto é silêncio.