Um sábado desses chego em casa e me deparo com Maria Gadú no Altas Horas.
Quando a ouvi cantar Amor de Índio paralisei. É uma canção que amo e com Gadú ficou algo novo, mantendo a essência da canção e potencializando a sua beleza. Não me contive e acabei rabiscando coisas no papel - algo que fluiu instantaneamente. Como nos últimos tempos tô buscando esse algo que nasce espontaneamente e que soa quase como se fosse uma mensagem mediúnica, acho que devo dividir com vocês esse momento mágico.
Com vocês, meus retalhos de sábado.
Um blue
a gota cai no meio do mar
os círculos se fazem
é hora de expandir, meu amor
eu me vejo espelhado
nós dois espalhados
nesse mesmo cenário
peixes fora do aquário
livres na natureza em processo
eu te vejo em mim
nessa tarde sem fim
molhando e secando
o amor no varal da liberdade
e isso que sinto agora
é um sentimento sem idade
sem o tempo do vazio
sem remos e sem rio
na necessidade do existir
veja só, foi só uma gota
pra gerar toda essa intensidade
e desse mar faço casa
onde abrigo sementes
em tardes claras
em tardes quentes
eternamente seu
no mar ou no céu
no azul que se fez blue
no verso do papel
e no corpo nu
II - [na tarde]
fontes e horizontes
parindo instantes
na tarde que arde
que reflete minha ânsia
como sorriso de criança
brincando com a borboleta
como o amor e sua seta
disparando em busca de corações
nossas emoções
gerando o ato
inventando a foto
pra depois comentar o fato
e alimentar o beijo
nesse março que se faz
em sóis de raios soberanos
derretendo a monotonia
dos tristes enganos
agora sol
nunca só
repousando a fantasia
na tarde que esteve longe de ser vazia