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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

novo texto no ar!


Breve comentário sobre o stand up comedy – por Raul franco

O stand up comedy há muito vem se tornando uma febre no Brasil. É um gênero mais do que consagrado. Basta ver as filas de jovens para assistir a esses shows em diversos espaços espalhados por aí. Todo mundo ávido por textos engraçados e performances cômicas que tornam as observações cotidianas extremamente hilárias.
Faz um tempo que tenho me dedicado a estudar o gênero. No youtube a cada dia milhares de vídeos são postados. Muitos comediantes que estão na mídia no momento, praticamente tornaram o seu trabalho conhecido do grande público via internet.  Há alguns anos me deparei com Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Oscar Filho e outros. Achava curioso essa coisa de estar entretendo a plateia apenas com um microfone na mão e textos próprios.

É claro que, como em todo e qualquer gênero, existem pessoas geniais e pessoas medianas. Eu tenho os meus favoritos. E acho fascinante quando vejo um comediante segurar a plateia apenas com um bom texto. O cara está ali, parado, mandando seu texto e a cada momento, surgem gargalhadas. E o cara não está fazendo nada mais do que comentando, a partir do seu ponto de vista, situações pelos quais nos deparamos no dia a dia. Esse é o trunfo do stand up comedy. E justamente o que torna um comediante melhor do que o outro é a sua capacidade de ser original no modo como conta as suas histórias.

Recentemente vi um garoto no youtube, apresentando-se no programa Tudo é Possível, da Record. O nome dele é Daniel Ducan. E em 45 segundos de vídeo eu já tinha dado várias gargalhadas com o moleque. E o mais bacana é ver que ele é novo e que ainda vai crescer muito. Mas de cara, ele mostrou um texto enxuto, criativo e o modo como ele falava, mostrava domínio do que estava fazendo.
Acredito que a grande diferença do stand up comedy para a simples contação de piada, está mesmo na matemática do texto. No stand up a “cabeça” das histórias não são tão longas. Você apresenta o “setup” – o tema em si - e mais a frente você mata a piada, o que chamamos de “punchline”. O raciocínio é mais rápido. E a velocidade com que as piadas vão acontecendo também.

É bacana quando vemos alguém genial , com um texto igualmente genial, para ficarmos com aquela inveja criativa e tentar fazer um trabalho com a mesma força que determinado comediante mostrou.  E como o stand up comedy é um gênero que tem mais tradição entre os americanos, é claro que devemos observá-los também. Afinal, você não vai querer, de cara, ouvir uma bossa nova tocada por um japonês. Antes de mais nada, você vai querer ouvir um brasileiro. Óbvio, né? A parada foi criada aqui. O mesmo acontece com os gringos. Eu sempre procuro ver os americanos, até para ver a escolha dos temas, o modo como as histórias são conduzidas. Gosto de muitos. Aqui, por exemplo, não vou citar os óbvios, como Chris Rock, Eddie Murphy e Jerry Seinfield. Mas teve um cara que recentemente eu descobri e que gostei muito das performances dele, que é o Dane Cook. Vale muito a pena. É só dar uma pesquisada no youtube que tem alguns vídeos legendados. E tem um que eu acho samurai que é o George Carlin (falecido em 2008) que tem um texto de humor mais voltado para a crítica social. Se você ainda está naquela onda de textos sobre arroto, flatulências e outras escatologias, ao ver Carlin, você vai querer rasgar tudo que você escreveu até agora.  E tem também Ellen Degeneres, que tem coisas ótimas, como o seu set falando sobre Deus.
No Brasil temos os guerreiros que faziam isso de maneira espetacular, bem antes do chamado modismo do stand up, que é o caso do grande José Vasconcelos e o inigualável Chico Anysio. E Vasconcelos, acredito, foi o nosso primeiro “one man show”.  Tanto que ele foi incentivador do próprio Chico Anysio, para que ele fizesse também um show solo.

Em suma, as fontes estão aí. E há espaço para o exercício da comédia. Nunca antes no Brasil tivemos tantos espaços para fazer apresentações de humor. O humor está realmente em alta. Há muita coisa boa por aí. É só usar um “olhar de peneira” para conseguir extrair o que realmente é bacana.  Aí é o bom senso, a experiência e a ardileza de cada um.
E quando estamos começando, tem uma regra que é primordial, acredito eu, e está no livro do Dan Rosenberg “How Not To Suck As Emcee”, que é a seguinte: “suba no palco tanto quanto for possível” . Isso ajuda muito a termos uma noção do nosso material. Porque tem coisas que achamos que pode funcionar e na hora não acontece. E tem coisas que, a partir do contato com a plateia, passa a tomar outra forma e acaba, por assim dizer, sendo reescrita no próprio palco, a partir da experimentação.

No mais, é só trabalhar constantemente. Escrever diariamente qualquer coisinha que passar pela cabeça. Experimentar o timing, a maneira de dizer aquilo. Filmar as apresentações e trabalhar muito mais depois de vê-las. Afinal, as coisas ficaram mais fáceis e por isso mesmo acabam exigindo mais do comediante. Fácil não quer dizer que qualquer um sobreviva no meio. É preciso suor e o exercício diário da observação. Só depois disso é que vem o riso e o aplauso. Podem ter certeza!

Um comentário:

Lu disse...

Texto muito bom, Raul, jornalísticaente falando, inclusive. Essa análise do momento atual do humor brasileiro é bem recebida por todos nós, humoristas ou apenas admiradores. Parabéns pelo retorno ao blog!!! Abs! Lu.