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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

REFLEXÕES TEATRAIS



Há muito venho querendo escrever um texto para o blog como forma de refletir um pouco sobre o movimento teatral no Rio de Janeiro. Principalmente com o advento e consolidação do Stand Up Comedy. É claro que pretendo fazer um apanhado geral afim de levantar coisas interessantes dessa, digamos assim, “nova onda teatral”.

Curiosamente, nessa semana, li uns três blogs que falavam especificamente sobre o gênero Stand Up Comedy, que, cada vez mais, tem proliferado como Gremlins. A cada mês surgem 2 ou 3 grupos de pessoas montando shows de humor, fazendo uso apenas do microfone. E esse gênero conseguiu um feito raro: tem levado muitos jovens aos teatros ou, principalmente, a bares e restaurantes, isto é, locais onde ocorrem tais shows.

O legal desses três blogs que li é que eles levantavam, com ironia e sagacidade, questões interessantes do gênero, inclusive, debochando do mesmo. E isso só me estimulou a produzir um texto – não tão irônico ou sagaz – como forma de entender alguns pontos da “nova onda teatral”, tendo eu, acompanhado de perto isso.

Então, comecemos: como já se sabe, o Stand Up virou o boom do momento, a galinha dos ovos de ouro, a elegância, a comédia cult, etc e tal. E o mais engraçado é que, dando um passeio pelo youtube, site que ajudou a proliferar o gênero e a consagrá-lo, podemos encontrar o mestre Chico Anísio lá pelo ano de 1968, fazendo... Stand Up. Apesar da distância entre os tempos, com poucas mudanças, o que o Chico fazia lá atrás é quase igual ao que se faz hoje. Pelo menos no quesito “de cara limpa” e com um microfone na mão.


Lembro que uma vez, acho que 2003, eu escrevi um texto para fazer com o ator Marcos Veras. E quando terminei de escrever, eu mostrei para ele as características daquilo que eu estava afim de fazer naquele momento. E era algo que se assemelhava ao Stand Up Comedy. Eu, na época, apresentei ao Marcos coisas que serviriam de inspiração. E o diferencial desse trabalho que pretendíamos fazer era que os textos seriam ditos de forma frenética, sem ter personagens, quer dizer, nós estaríamos lá, falando de coisas relacionadas a vida do artista brasileiro, de cara limpa. Seria uma forma de reflexão sobre nossas carreiras. Mas, a primeira vista, aquilo parecia muito novo pra gente. Depois de pouco tempo é que vimos surgir pessoas geniais, fazendo coisas simples, apenas com um bom texto e o sempre presente microfone. Só que já havíamos abandonado esse projeto para fazer outros.



Quando vi o Diogo Portugal a primeira vez no youtube, fazendo Stand Up, curti muito. Depois assisti, no mesmo youtube, Rafinha Bastos, e delirei mais ainda. Comecei a achar aquilo interessante. Aí conheci o Comédia em Pé (considerado o primeiro clube de comédia Stand Up do Brasil), com Fernando Caruso, Cláudio Torres Gonzaga, Fábio Porchat e Paulo Carvalho. E vi que a coisa estava decolando, ganhando corpo e fazendo com que o público se interessasse. O mais curioso é que no começo, quando a galera do Stand Up Comedy ia fazer os shows, antes, sempre tinha a explicação do que vinha a ser o gênero. Hoje ainda tem, mas não tanto como no começo. É a prova de que o gênero já foi digerido pela grande maioria.

Dando um salto para os tempos atuais, agora com o gênero já consagrado, eu sempre brinco, analisando esse movimento do Stand Up, dizendo que é como o movimento do rock dos anos 80. Lembram? Como a moda no Brasil naquela década era fazer rock tupiniquim, muitos queriam ter bandas bem sucedidas como a Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso. Muitos não conseguiam, porque faltava talento, espontaneidade e originalidade. Tanto que naquela época o Capital Inicial era uma banda da segundona, porque era difícil competir com essas bandas tão geniais. O mesmo acontece com o Stand Up. E como, na maioria das vezes, é só preciso ter cara de pau e determinação pra subir no palco para fazer, muitos se arvoram. E nem precisa ser ator. Quer dizer, às vezes é até melhor não ser, para não tentar interpretar demais a história. Tem muito publicitário fazendo Stand Up. Muito jornalista (com diploma ainda – rsrs). Até matemático, como um amigo que admiro muito, Marcos Castro. Mas como tudo já está carnavalizado demais, vi que até o Sérgio Malandro e a Nany People estão fazendo Stand Up. rsrs Isso é demais pra mim!!!!!!

Uma vez, há tempos, quando fui ver uma apresentação de alguém – que não lembro quem – eu achei interessante, mas teve um amigo meu que disse: “Ah, mas não é o Stand Up puro! Porque o puro não pode ter personagem, não pode ter música...” Essa colocação desse meu amigo pareceu também aquelas colocações de puristas que falam do Reggae Raiz que é diferente do Reggae Roots e tal. Achei incrível essa colocação! O que sei é que acredito em dois gêneros de comédia: aquela que funciona e aquela que não funciona. Porque, sinceramente, para o público que pagou o ingresso para ver uma comédia, ele só quer saber de rir. Análises e críticas profundas são para quem trabalha com isso, ou seja, os próprios críticos dos cadernos culturais. Porém, uma coisa é certa: o público é quem consagra a peça ou o show. Os críticos servem só para atrapalhar o meio do campo (com algumas raras exceções).

Eu, de vez em quando flerto com o Stand Up. Já estou começando a montar o meu novo show, experimentando características desse gênero. Mas acredito que a minha palavra de ordem sempre foi subverter. Então, contrariando o meu amigo, não vou optar pelo Stand Up puro. Gosto de mesclar as coisas. Por que já pensou se fôssemos defender a pureza de tudo? (rsrsrs) O cara tocaria rock da mesma maneira que a humanidade ouvia há 50 anos. E não haveria Benjor para propor o Samba Rock. Pra mim, esse é o segredo do jogo, poder subverter e mixar gêneros, pelo menos no trabalho em que eu venho me propondo.

Continuo admirando muito o trabalho de muita gente que faz Stand Up. Até porque faço participações em alguns shows de amigos meus. E fico admirado ao ver uma galera cada vez maior comparecer aos shows. Por exemplo, fui ao Canecão assistir a gravação do DVD do Comédia em Pé. E estava muito cheio. E eu pensei: “Caramba, os caras estão nesse palco enorme apenas com um painel de fundo, uma luz e o tal microfone. E a platéia se acabando de rir”. Ou seja, o que importa é que funciona. E é legal ver caras bons fazerem Stand Up. Outra coisa mais louca: devido a economia de parafernálias para realizar um show de Stand Up, o Comédia em Pé chegou ao cúmulo de estar em cartaz em 3 lugares diferentes do Rio de Janeiro, no mesmo período. Realmente é uma coisa extraordinária.

Isso é a prova de que muitos adereços, cenários, figurinos não garantem a diversão do público. Já vi peças mega-produzidas que eu quis sair no meio. E já fiquei boquiaberto ao ver a atriz e mímica Denise Stoklos ficar gigante no palco ao fazer uso de seu corpo e de sua voz. O que importa, como já disse, é se funciona.



Enfim, isso é apenas um lado desse movimento todo do teatro no Rio de Janeiro. Mas não é o todo. E como falamos do Stand Up, vale dizer também que é imperativo o grande número de comédias em cartaz no Rio de Janeiro. Aqui, em sua maioria, ou você faz comédia ou não terá tanto público. O grande barato é ver quando outros gêneros fazem sucesso, quando não estão fazendo o feijão com arroz da comédia carioca. É a prova também de que o trabalho é bom. Porque o excesso de comédias não quer dizer que o riso acompanhe isso proporcionalmente. Tem muita coisa ruim também, muita gente querendo pegar o filão do que está dando certo. Isso devo falar mais tarde em outro post.

Para terminar, gostaria de escrever o seguinte: assim como comentei de modo geral sobre o Stand Up, eu também gostaria muito que tivesse um grande movimento em prol do teatro mesmo. Porque minha formação é teatral. Eu estudei pra isso (apesar de muita gente achar que não precisa estudar tanto para ser ator). A minha relação com a comédia nesse sentido de solos, de performances individuais, é recente. Iniciou-se mesmo na comédia Tubo de Ensaio, em 2005, onde tinha solos de personagens. Com os Fanfarrões isso se consolidou em mim. E por causa da constância de eventos e novas temporadas dos Fanfarrões, eu passei a ter uma produção voltada para os esquetes de humor com novos personagens cômicos. Mas já estou com saudade de espetáculos teatrais, que podem ser comédia, algo como um Molière que tanto gosto, ou um drama, como Tchekov, Nelson Rodrigues, e outros. Como falei de movimento e dessa minha saudade, por sorte fui parar num projeto bem bacana que está acontecendo no teatro Gláucio Gil: o Drama EnCena (já tem um post aqui que falo desse projeto) que, resumidamente, é uma reunião de autores novos (alguns até premiados) e uma geração de atores bons, levantando as cenas produzidas por esses autores em uma semana. Um exercício fantástico e muito peculiar para todos nós. E o que é bom é que estamos buscando a essência teatral e levando questões contemporâneas para o palco, com criatividade e empenho. Isso é muito bom também. Porque, por exemplo, uma vez vi uma entrevista com a Bibi Ferreira e ela falava que essa nova geração está muito mal acostumada, fazendo espetáculos teatrais somente com o uso do microfone, até em lugares que nem necessitaria desse recurso. Eu pensei muito sobre isso. E como falei de Stand Up, uso do microfone e tal, isso tem tudo a ver. É claro que nesse gênero, isso é de extrema importância. Mas é grandioso você ter um palco com uma acústica maravilhosa e poder fazer uso daquela voz que você, como ator, trabalhou. Se começarmos mesmo a querer usar microfone em todo espaço, estaremos perdendo também essa exigência vocal, tão defendida nas escolas teatrais.

No próximo post, sigo nas minhas reflexões teatrais.

E nesse movimento todo, sempre torço para que sobrevivam os melhores!

3 comentários:

Wagner Trindade disse...

Quer que eu fale francamente?... Magavilhoso!!!

Assino embaixo de tudo que dissestes.

Forte abraço,

Wagner Trindade

Raul Franco disse...

paga, paga!!! rsrsrs

valeu!

abraços

RF

Unknown disse...

Concordo com o que foi dito,e gostaria de acrescentar:
que muitas vezes esse gênero é uma grande covardia contra o Teatro.
Por que?
Devido ao sucesso e a economia de cenários,luzes,elenco,do aparato Teatral,os Teatros foram invadidos por STUPCMDY
Claro:vc só precisa de:
-1pessoa,1microfone,1foco de luz.
Qual o custo disso comparado a uma peça? É covardia ou não é?
Muitas vezes vc deixa de conseguir uma pauta pra sua peça,Peça que foi concebida para o palco,Teatro no Teatro, porque tem um cara com microfone que poderia estar fazendo aquele show num Bar,Restaurante,Bingo,Boate....
enfim um número infindável de lugares e com grande Exito ,principalmente por estarmos no Rio de Janeiro,lugar que as pessoas estão mais interessadas em dar risadas e festa do que Arte pra sentir ou pensar.


Enfim uma questão para refletir!!!